"Estou em Roma e estou em apuros."
"Ontem à tarde, fui assistir a um jogo de futebol com Luca Spaghetti e seus amigos. Íamos ver o Lazio jogar."(...) "o Lazio acabou perdendo."
Precisando ser consolado depois do jogo, Luca Spaghetti perguntou a seus amigos:
- Vamos sair?
Imaginei que isso significasse: "Vamos sair para um bar?" É o que os torcedores americanos fariam se o seu time houvesse acabado de perder. Iriam a um bar e ficariam completamente embriagados. E não são só os americanos que fariam isso - os ingleses, os australianos, os alemães também.... todo mundo, certo? Mas Luca e seus amigos não foram a um bar para afogar as mágoas. Foram a uma padaria. Uma padaria pequenina, discreta, escondida em um subsolo de um bairro romano qualquer. No domingo à noite, o lugar estava lotado. Mas ele sempre fica lotado depois dos jogos. Os torcedores do Lazio sempre param ali antes de voltar do estádio para casa, e passam horas em pé na rua, recostados em suas motos, conversando sobre o jogo, parecendo mais machos do que nunca, e comendo bombas de creme.
Eu amo a Itália."
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"Na outra noite, estávamos conversando sobe as expressões que se usam quando se está tentando reconfortar alguém com problemas. Eu lhe disse que, em inglês, nós algumas vezes dizemos: "I've been there" ("já passei por isso", mas literalmente "já estive aí"). No início, ele não entedeu - já estive onde? Mas eu lhe expliquei que, algumas vezes ,a tristeza profunda é quase um local específico, uma coordenada em algum mapa do tempo. Quando você está nessa selva de tristeza, não consegue imaginar que um dia conseguirá encontrar a saída para um lugar melhor. Mas, se alguém lhe garante que também já esteve neste mesmo lugar, e conseguiu sair dele, isso às vezes traz alento.
- Então a tristeza é um lugar? - perguntou Giovanni.
- Algumas vezes as pessoas passam anos lá - falei.
Em troca, Giovanni me disse que, ao demonstrar empatia, os italianos dizem L'ho provato sulla mia pelle, que siginfica: "Senti isso na própria pele." Ou seja, eu também já fui atingido ou ferido dessa forma, e sei exatamente pelo que você está passando.
Até agora, no entanto, o que mais gosto de dizer em italiano é uma palavra simples, comum:
Attraversiamo.
Quer dizer: "Vamos atravessar". Os amigos dizem isso uns para os outros sem parar quando estão andando pela calçada e decidem que chegou a hora de passar para o outro lado da rua. Ou seja, é literalmente uma palavra pedestre. Ela não tem nada de mais. Mesmo assim, por algum motivo, causa-me um efeito poderoso. (....)
(...) Adoro esta palavra. Agora a digo o tempo inteiro. Invento qualquer desculpa para dizê-la. Isso está deixando Sofie maluca. Vamos atravessar! Vamos atravessar! Estou sempre puxando-a de um lado para o outro em meio ao tráfego romano enlouquecido. Vou acabar matando nós duas com essa palavra."
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"Minha vida estava despedaçada, e eu estava tão irreconhecível para mim mesma que provavelmente não teria reconhecido meu próprio rosto em uma identificação policial. No entanto, quando comecei a aprender italiano, senti um vislumbre de felicidade, e, quando você sente um tênue potencial de felicidade depois de épocas tão sombrias, precisa agarrar essa felicidade com todas as suas forças, e não soltá-la até ela arrastar você para fora da lama - não se trata de egoísmo, mas sim de libertação."
"Deixarei a Itália perceptivelmente maior do que quando cheguei aqui. E irei embora com a esperança de que a expansão de uma pessoa - a ampliação de uma vida - seja realmente um ato de valor neste mundo. Mesmo que essa vida, só dessa vezinha, por acaso seja apenas minha e de mais ninguém."
Trechos do livro Comer, Rezar, Amar de Elizabeth Gilbert, Editora Objetiva, 2006.
Elizabeth Gilbert realizou uma viagem pessoal surpreendente. Uma mulher extraordinária, como todas as mulheres o são de maneira única.
Parabéns a todas pelo Dia Internacional da Mulher!
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Um comentário:
Adorei o texto Cris! Deu mais vontade ainda de estudar italiano, pena que no momento não tenho tempo mas ano que vem vou começar de qualquer jeito!
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